sábado, 26 de março de 2011

Voltando à rua depois de 7 anos. (aconteceu em 26.03.11 RJ)

Ontem eu tive a pretenção de sondar as ruas da Lapa, onde trabalhei  (em frente ao Bar 'Semente') com meu cavalete, fazendo caricaturas nas sextas lotadas de tribos. O objetivo que eu tive foi mesmo sondar o comportamento das pessoas quando me vissem desenhando. Me arrumei a caráter, coloquei aquelas essências especiais que eu adoro,camiseta vermelha, chapeu preto e fui à luta, puxando aquele costumeiro carrinho de compras lotado de material de pintura. Seguindo então pela noite ,me sentí como se fosse a primeira vez, pois ja se foram sete anos desde que deixei de trabalhar nas ruas. Minha vizinha e amiga Neuza me encontrou na porta do prédio e cheia de inspiração me abraçou , desejou boa sorte na empreitada e me disse palavras que mereceram total atenção: "Você ja conquistou o seu lugar, vários deles, a rua é o seu quintal, e como todo dono de casa,tem o direito de passear e cuidar do seu quintal". Não desmerecendo a rua,pois foi nela que aprendí quase tudo o que sei, poderia associar esse "quintal" a uma faculdade.
No primeiro momento em que pus os pés na Lapa, após atravessar os arcos, tive a certeza de que grupos maiores e talvez mais elitizados saberiam compreender o meu trabalho de arte e até se animariam.  Depois de armar o cavalete, alguns olhares curiosos me sondavam sobre o que eu iria fazer. Percebí um casal simpatico que se mesclava com a multidão do bar lotado. Então,comecei a desenhar a moça loura, sem que essa percebesse. Dois rapazes ja meio de pilequinho vieram me cumprimentar e em seguida começaram a ditar como eu deveria fazer o desenho, e quando perguntei eles me disseram que não eram desenhistas rsr...eu oferecí o trabalho,descontos especiais, mas eles disseram estar na "aba" dos amigos.  Logo meu segredo foi por água a baixo, pois um deles fez o favor de chamar a atenção da moça que sutilmente eu desenhava. O casal ficou surpreso, mas não saiu da mesa. Continuei. De repente, tres crianças de rua apareceram vendendo balinha e o gordinho muito esperto me perguntou se eu teria a capacidade de desenhá-lo, me perguntou o preço e tudo, eu respondí que sim e oferecí um desenho, mas ele assustado empurrou o colega pra ser a cobaia. rsr..O coleguinha da mesma idade,sem pestanejar,aceitou e não tirava os olhos da placa e do papel. Eu fiz um lindo desenho e lhe entreguei de presente. Eles saíram felizes com o ar de quem teriam encontrado um tesouro na rua. Mas quem encontrou fui eu. Dois bêbados e tres crianças de rua foram meus admiradores principais naquele noite. Eu que tinha saído pra sondar o campo, percebí que meu intuito de fazer algum dinheiro se transformava em fazer alguem feliz. Levei o desenho pro casal que me ofereceu o que podiam como pagamento,era pouco, mas satisfatório, pois foram atenciosos. Saí dalí depressa como a seguir a próxima missão. Cheguei tarde no Lapa Café, na Gomes Freire, onde sou um convidado ilustre,ja com muitos amigos da casa, onde desenho uma ou duas vezes por semana. Lá, percebí que ainda estava bastante cheia. Procurei me introsar com pequenos grupos, desenhei quatro amigos ,e um senhor de barba e olhos azuis me observava de perto. Estava admirando. Oferecí o trabalho, ele disse que fazia parte da banda que tocava na casa e que não sabia se iria ter com que me pagar, pois ganhava pouco. Eu sentí que deveria desenhá-lo e oferecí a arte descpreocupando-o. Ele, no final emocionado como uma criança, disse que nunca tinha sido tratado tão amavelmente, pois ja estava acostumado a levar "patadas". Alí estava alguem a pedir socorro e um sorriso o atingiu., Nós conversamos depois e ele se revelou um excelente gaitista e deu um show na área do café e até uma moça veio dançar o seu blues.Mas ele passou mal logo em seguida, pois havia se esforçado demais no sopro do instrumento. Cuidamos dele com água e atenção.Ele ficou bem. Logo depois um jovem veio  e se juntou a nós e houve uma conversa séria sobre as energias, sobre as palavras negativas, os karmas, a vigilância dos pensamentos e até mesmo umas dicas de mantra budista, como a recitação do Nam-mi-o-ho-re-gue-kyó.  Todos nos despedimos com um grande abraço e eu voltei pra casa com a satisfação do dever cumprido e a lição de que nem sempre nosso objetivo de sair para ganhar dinheiro funciona, ainda que estejamos precisando,ás vezes estamos sendo enviados para outros tipos de missões que na verdade nem sabíamos ao certo, mas que,em algum momento isso ficará claro e esta é a hora de escolher entre ignorar a dor alheia ou ajudar o próximo com o pouco que temos, que para ele é indispensável e necessário. Um pouquinho de amor e atenção  que eu pensei em buscar pra mim, mas que na verdade estava alí mesmo para doar a outrem. Quando reclamares de que não está sendo servido pelo universo como você gostaria, experimente se doar e vai ver que mundo maravilhoso de possibilidades existe dentro de si e a felicidade não vai se desgrudar de você. Experimente!...

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